CASAL CRISTÃO: DOM DE DEUS PARA OS FILHOS
I- SAUDAÇÃO
No ano passado, numa de suas vindas a São Paulo, local onde se realiza a maioria das reuniões da Equipe da Super Região, Graça e Roberto brindaram-nos com uma visita a nossa casa para conversamos sobre assuntos próprios do Movimento. Nessa oportunidade convidaram-nos para fazer uma palestra neste II Encontro Nacional. Confessamos que tentamos demovê-los deste convite. Primeiramente porque estávamos convencidos que esta multidão impressionante aqui reunida mereceria algo melhor do que nós. Em segundo lugar, sentimos o peso da responsabilidade e não podemos esconder de vocês o medo que esse tipo de convite sempre nos provoca.
Mas eles não aceitaram nossas ponderações.
Mais tarde, quando escrevíamos essa palestra, lembramo-nos de algo que o Pe. Caffarel falara aos casais responsáveis: “quando vocês já não sentirem medo, está na hora de arrumar suas coisas e ir embora”.
Assim, é por ainda sentir medo que podemos seguir confiando que a graça de Deus fale em nós, e bem mais alto que a nossa voz.
II- INTRODUÇÃO
A fim de introduzir o assunto voltemos nosso olhar ao povo de Israel cativo no Egito. Ali estava privado dos seus direitos. Vivia e trabalhava como escravo. Deus resolve interferir para salvar o seu povo e lhe envia um profeta: Moisés. Cumprindo as ordens do Senhor, Moisés liberta-o e conduz esses fugitivos. Nesse percurso lhes faz entender um grande acontecimento, maior que a própria liberdade: o fato de que Deus os escolhera para ser o seu povo.
Nesse caminhar, Moisés testemunha a Aliança que o Senhor quis celebrar, mas por causa de sua fraqueza, Moisés recebe uma reprimenda, e assim não poderá entrar na terra prometida.
É substituído por Josué, que completa sua obra. Após lutas e guerras, e contando sempre com a intervenção de Deus, os israelitas tomam posse da terra prometida.
Por que estamos falando nisso?
A Equipe da Super Região definiu o lema deste II Encontro Nacional, “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”, extraindo-o das palavras de Josué por ocasião de um grande encontro com as tribos de Israel. Nesse encontro, na cidade de Siquém, repartiu a terra prometida a cada uma das doze tribos e lhes disse: mantenham-se fiéis à aliança com nosso Deus.
Cativeiro, libertação, povo escolhido, aliança com Deus, e promessa cumprida. Esta a síntese da teologia começada com o Êxodo e que se completa no Livro de Josué.
“Eu e minha casa serviremos ao Senhor”. O que essa frase pode dizer hoje, a nós, reunidos nesta grande assembléia de Florianópolis?
Qual é a nossa história? Qual a grande intervenção de Deus? Qual a promessa cumprida? A que fomos convocados?
“Eu e minha casa serviremos ao Senhor é,antes de mais nada, uma profissão de fé, imagem antiqüíssima de outras profissões de fé a nós também pedidas.
É a profissão de fé no valor do sacramento do matrimônio. Acreditamos que o casal é a obra-prima de Deus, que intervém na sua história pessoal. Acreditamos neste Movimento que vem nos ajudar a descobrir o mistério do amor conjugal.
Olhemos para nós mesmos, e alegremo-nos por participar de um Movimento já consolidado, espalhado por 70 países, e no caso do Brasil, constituindo uma grande rede que cobre quase todo o território nacional. Neste Encontro de Florianópolis, somos convocados a tomar consciência dos presentes que Deus concedeu a nós, casais. Poderemos sentir semelhante contentamento, como os participantes do encontro de Siquém ao entrar na posse da terra prometida, e certamente queremos responder nosso SIM à proposta de Josué: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”.
Mudando o que deve ser mudado, é possível estabelecer uma analogia com o que se passou com o povo de Israel e nós, um novo povo constituído de casais cristãos unidos pelo sacramento do matrimônio.
Retornando para os anos de 1930-1940, pode-se dizer que, no âmbito da Igreja, os casais cristãos viviam prisioneiros das idéias que os colocavam longe do acesso à santidade, que era privilégio dos religiosos e celibatários. Os casados nada encontravam nas atividades da Igreja que pudessem desenvolver como casal. Eram vistos com ares de suspeição, inferiorizados na escala da espiritualidade por que estariam muito preocupados com o cônjuge, os filhos, com o sustento material da família. Os desejos da carne, como se dizia, eram olhados como resquício do pecado, ou se não tanto, apenas toleráveis para evitar um mal maior.
A esse cativeiro moral que discriminava os casados e reduzia o matrimônio à instituição de segunda categoria, acrescentavam-se circunstâncias desalentadoras da sociedade e da cultura da época: cresciam as uniões livres, insinuavam-se os divórcios, pontuavam-se idéias de limitação da prole pelo temor da explosão demográfica.
Em contrapartida surgiam, isoladamente é verdade, algumas poucas vozes que procuravam restabelecer o valor do amor conjugal. E, ainda, como está escrito nas primeiras palavras dos nossos Estatutos, “multiplicavam-se os casais que aspiravam a uma vida integralmente cristã”.
O clamor desses casais, novo povo, ecoou no coração de Deus que mais uma vez vem intervir na história, agora em favor do amor conjugal e do matrimônio e lhe suscita um profeta para livrá-lo do jugo do pensamento reinante. Envia a esse povo um guia, que o conduzirá à descoberta das belezas do matrimônio cristão segundo o plano do Criador. O profeta enviado por Deus, conhecido de todos nós, chama-se Pe. Henri Caffarel.
O assunto que iremos desenvolver é o casal cristão, enquanto dom para os filhos. Assim, tínhamos necessariamente que evocar a figura do casal, pois se não formos verdadeiramente casal, não poderemos ser dom. Evidente que não estamos nos referindo a um casal qualquer, mas ao casal cristão, libertado das amarras, plenificado pelo amor de Deus, e por Ele tornado fecundo.
III- CASAL CRISTÃO
Partimos da afirmativa de que o casal é um dom de Deus para os filhos. Será verdade? De que forma ser dom? Há meios disponíveis para que isso se concretize?
Permaneçamos ainda olhando para as nossas origens, voltados às fontes do nosso Movimento. Será suficiente lembrar que a semente foi lançada quando o Pe. Caffarel reuniu-se inicialmente com 4 casais. Eram casais jovens, ricos de um amor novinho em folha. Casais cristãos convictos, que queriam viver em profundidade o seu amor conjugal sob o prisma da fé, mas imergidos no cotidiano de sua vida de casal.
Tinham firmeza de objetivo. Seu pedido ao Pe. Caffarel era claro: “Com certeza, Deus pensa algo de muito belo a respeito desse amor humano, que é a nossa riqueza e a nossa esperança. Ajude-nos a descobri-lo”.
Em sua simplicidade, Pe. Caffarel reconheceu que não detinha maiores informações, nem conhecimentos próprios, em suma não podia lhes oferecer uma resposta pronta.
No entanto, veio não uma resposta, mas uma proposta, que todos conhecemos: “Procuremos juntos!”
A partir desta decisão, de um modo novo e diferente, mas não menos extraordinário que as façanhas de Moisés e de Josué, iniciava-se a trajetória dos casais equipistas em busca das potencialidades do amor que os unia. “Dois amores que constituíam sua força, sua alegria, sua razão de viver: o amor de Cristo e o amor conjugal”.
Não será necessário percorrer todos os passos da nossa história de 70 anos, mas em cada passo encontramos as marcas da graça de Deus.
Podemos afirmar que a fecundidade evangélica do Pe. Caffarel e daqueles casais pioneiros foi generosamente distribuída, passada de mãos em mãos, ou melhor de coração a coração e foi assim que chegou até nós.
As ENS visam o casal. Ele é sua razão de ser. Oferece-lhe uma proposta, dá-lhe uma pedagogia, ensina, exorta, incentiva, enfim, indica ao casal um caminho de felicidade.
Olhemos para o interior de nós mesmos, e nos veremos testemunhas das inúmeras transformações pelas quais passamos: o tempo da conversão, do aprendizado, do crescimento e até, para muitos de nós, o da maturidade na fé. Como casal recebemos demais, não é verdade?
Porém, conta o Pe. Caffarel que uma vez recebeu uma carta amigável de um casal equipista, mas que lhe apresentava uma queixa. Dizia reconhecer que o Movimento tinha sido útil, que fazia muito pelos casais, pelo desenvolvimento do amor conjugal, mas muito pouco pela educação dos filhos. E concluía a carta de um modo que, não o disse o Pe. Caffarel, mas o dizemos nós, pareceu-nos um tanto quanto deselegante: Dizia que rezava pedindo a Deus que suscitasse um super-Pe. Caffarel, que desse atenção ao objetivo de ajudar os filhos dos equipistas.
Pe. Caffarel respondeu que não discordava daquela aspiração, mas enquanto ele também rezava e esperava que Deus atendesse esse pedido – enviar um super-Caffarel -, tomava a liberdade de lembrar ao distinto casal que a prática do mandamento novo: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei, aplica-se também no relacionamento entre pais e filhos.
Amar como Jesus amou: Somente através desse amor à maneira do amor de Cristo é que estaremos assumindo o ministério de ser dom, presente de Deus para os filhos.
IV- DOM DE DEUS PARA OS FILHOS
Em princípio, tudo de bom que o pai e a mãe fazem pelos filhos, pode ser considerado um dom, um presente. A própria geração da vida é um grande dom. Não nos esqueçamos dos casais que não puderam gerar a vida biológica, mas descobriram outras maneiras de distribuir seu amor.
Quando o casal luta, trabalha e se esforça para cuidar da subsistência dos filhos, propiciar-lhes acesso aos estudos, dar-lhes um nível razoável de conforto, uma casa que os abrigue, não se pode negar que isso tudo é dom para o filho.
Mas essas coisas comuns podem ser dadas por qualquer casal. Não precisa ser casal cristão, muito menos equipista.
Por sua vez, nem todo cuidado, desvelo ou atenção com os filhos poderá merecer o título de amor-caridade, de amor assemelhado ao de Jesus. Talvez não passe do mero cumprimento de uma obrigação moral, ou mesmo uma simples resposta de quem se sente responsável pela manutenção, pela educação da prole.
Para ser dom de Deus, o casal cristão forçosamente se interessará em transmitir a fecundidade evangélica, que corresponde a uma força criativa, geradora de vida. Ser dom é trabalhar o terreno, é fecundar o espírito dos filhos com sementes da sabedoria divina.
Por outro lado, nem mesmo se poderá medir ou avaliar a fecundidade de ser dom pela constatação dos frutos produzidos. Talvez esses frutos demorem a vir; talvez não nos seja dado contemplá-los. A fecundidade de ser dom não se mede pelo resultado do que cada casal cristão conseguiu recolher dos filhos, mas daquilo que deixamos Deus realizar neles através de nós. Temos de nos convencer que não somos detentores do poder e do controle. Eles não são nossa propriedade, e com a liberdade que lhes cabe, poderão escolher os seus destinos, talvez perto, talvez distanciados dos nossos caminhos.
Apesar dessa inexorável liberdade diante da qual, por vezes, pagamos pesado preço, cremos que podemos nos pôr de acordo de que um casal cristão que se preze não pode deixar a família navegar ao sabor das ondas. É preciso ter um projeto.
V- COM UM OLHAR PARA O AMANHÃ
Um projeto é algo que nos leva a querer incorporar valores que reputamos importantes e que almejamos possam ser assimilados ou aproveitados pelos filhos, sabe-se lá quando ou como.
Sempre nos lembramos das palavras sábias do Pe. Mario José Filho, ex-conselheiro espiritual da então ECIR, quando mostrava o contraste entre o comum e o normal.
É comum hoje ser desonesto. Mas não é normal. É comum aceitar que se use qualquer meio para alcançar um fim, mas não é normal. É comum não se sustentar sentado o que se falou em pé, mas não é normal. É comum a infidelidade conjugal, mas não é normal. É comum tirar-se vantagem, resolver tudo com aquele jeitinho conhecido, mas não é normal. É comum marido e mulher viverem em espírito de competição dentro do lar, mas isso não é normal. É comum as crianças e os jovens não conhecerem limites para nada, mas isso não é normal.
É tão grande a perda de valores do mundo que se poderiam multiplicar os exemplos na linha do comum e do normal.
É a conseqüência do relativismo gritante em que vivemos, e que o Papa Bento XVI cataloga como um dos maiores perigos para a humanidade, e que bate constantemente às portas de nossa casa. Tudo é relativo, não existem mais verdades absolutas. Acreditar em que, em quem, para quê? Quem de nós não ouviu um filho dizendo: “eu penso assim e está acabado!” Ou uma frase como esta: “Que bobagem, pai! Todo mundo faz isso?” Enfim, vemos atônitos que hoje cada um se sente no direito de estabelecer os seus próprios parâmetros.
Quem pretende ser dom de Deus para os filhos tem de reagir, de confrontar essa forma perniciosa de pensar, de ser e de agir.
Pensamos que não seja difícil estabelecer um projeto para o casal! Nem se trata de colocar nesse projeto apenas nossos sonhos, ou só o que julgamos importante. Trata-se, mais, de perguntar o que Deus espera de nós, como casal?
Falamos que não é difícil um projeto conjugal, ou seja, do marido e da esposa. A pergunta que se segue é: poder-se-ia falar também num projeto da família? Pode uma família, com filhos em diversas faixas de idade, que pensam diferente, que podem optar por outros caminhos, ter um projeto comum, construir alguma coisa juntos?
Se pensarmos num projeto da família, ou seja, construído ativamente pelo casal junto com seus filhos, concluiríamos que seria quase uma utopia, algo acessível apenas para uma minoria de famílias privilegiadas, excepcionalmente harmoniosas. Mas se admitirmos que os pais podem fazer um projeto de família, isso passa a ser perfeitamente factível.
Evidentemente, um projeto assim, será algo bem mais aberto, flexível, centrado mais em atitudes do que em idéias e decisões. Um projeto disposto a evoluir lentamente, e que tem por objetivo apenas dar um certo “rosto comum”, sem pretender fazer que os filhos pensem todos da mesma forma ou que observem fielmente o jeito de ser dos pais.
Um projeto de família representa o esforço empreendido pelo casal, uma luz a indicar de que modo a família pode caminhar nas penumbras difíceis da vida. Trata-se de algo que, sem ferir a liberdade dos filhos, abra-lhes uma oportunidade de descobrir os valores que nos fazem felizes e, sobretudo, revelar-lhes o que é o amor e como se ama.
O documento Conclusões de Puebla, em seu nº 583, fala dos rostos do amor humano, como um processo de evolução da pessoa humana: o rosto do amor conjugal, o rosto do amor do pai e da mãe, o rosto do amor filial, e o rosto do amor fraterno.
Silvio Botero, sacerdote e doutor em teologia, destaca que todos esses rostos são o amor em potência, aguardando a oportunidade para se manifestar na vida do homem.
O casal cristão pode, se assim o quiser, ser dom vital para a filhos. Aliás, nada melhor para acender o amor na família que possibilitar coisas feitas em comum, nem que seja um almoço de fim de semana, um programa de lazer, rezar juntos etc.
Falamos em projeto de família não necessariamente como ações a realizar, mas como atitudes a serem assimiladas. Não é à toa que o Movimento propõe a nós, casais, Pontos Concretos de Esforço que nos levem a vivenciar as três atitudes fundamentais: a clareza da verdade, o encontro e a comunhão com o próximo, aqui incluídos os filhos, e nos ensine a buscar o amor e a vontade de Deus.
Quando os filhos são pequenos é mais fácil incutir em seus corações, até mesmo por palavras, os valores que os ajudem a abrir-se ao conhecimento de Deus. Quando eles crescem, já não há quase espaço para esse tipo de abordagem, não cabe forçar nada. Resta assim o cultivo das atitudes e dos exemplos que arrastam e abrem o coração.
Mercedes e Álvaro Gomes Ferrer, ex-casal responsável da ERI, numa palestra sobre os meios que o Movimento disponibiliza em favor dos casais, especialmente na sua relação com os filhos, elencaram algumas pistas que gostaríamos de compartilhar com vocês. São apenas pistas que não esgotam a matéria, de maneira que podemos permanecer inteiramente abertos à nossa própria criatividade. Eis alguns pontos para um esboço do nosso projeto de família.
a) ENSINAR A OLHAR: Talvez haja aqui pessoas que entendam da arte da pintura, mas provavelmente a maioria, como nós, limite-se a gostar ou desgostar de um quadro. Quando porém nos deixamos conduzir por um especialista, descobriremos o sentido das sombras que fazem realçar a luz. Percebem-se os detalhes, as expressões, os matizes, os contrastes que nos permitem ver muito mais do que está ao alcance dos olhos, e nos fazem penetrar na alma do artista.
Também podemos aprender e ensinar a olhar cada pessoa com atenção, com ternura e compaixão. Se assim a olharmos, poderemos percebê-la como pessoa única, digna de um amor exclusivo. É assim que Deus nos olha: olhar amoroso, criativo, cheio de misericórdia.
b) ENSINAR A ESCUTAR
Não é fácil escutar. Não se trata de uma atitude passiva: fechar a boca e pronto. É uma atitude ativa, talvez até mais exigente que o próprio falar. Implica descentralizar o foco de si para o outro. Quem não esquece de si mesmo não terá tempo para ouvir.
Não se trata, tampouco, de apenas prestar atenção para poder entender o pensamento do outro, mas também é escutar com todo o corpo, com os olhos, com o sorriso, com o coração, e tudo o que for capaz de mostrar acolhimento.
c) ENSINAR A PENSAR
Que nossos filhos reconheçam que não fazemos o papel de “animais arrastados pelo tropel da boiada”. Que vejam que somos capazes de pensar, de ter senso crítico. Que não nos deixamos levar pelas primeiras notícias dos jornais ou da TV, geralmente manipuladas e tendenciosas. Já dizia o filósofo Descartes: “penso, logo existo”. Quem pensa e reflete exercita uma das principais características do ser humano. Que nossos filhos possam beneficiar-se da retidão no pensar que aprimoramos através do estudo e discussão do tema de nossas reuniões mensais, que nos vejam gastando tempo com boas leituras, que nos sintam interessados no conhecimento da fé. Que não nos vejam envergonhados por mudar de idéias porque estamos sempre abertos a aprender algo novo.
d) ENSINAR A ENTUSIASMAR-SE
O entusiasmo é essa atitude interior que faz a vida ser bela. Não se trata de atitude de quem não tem problemas, mas da capacidade de prestar atenção ao raio de luz em vez de perder tempo com a escuridão que tenta esconder essa luz. Entusiasmar-se é transformar qualquer coisa comum em algo interessante, é saber alegrar-se com o que é simples.
Num antigo editorial escrito pelo Padre Bernard Olivier, que foi conselheiro espiritual da ERI ele dizia: “A felicidade é para aqueles que são felizes”. Pensem se isso não é verdade! É que há pessoas que por mais coisas boas que lhes estejam ocorrendo, estão sempre amarguradas, enquanto outras transformam em bem tudo o que lhes ocorre de ruim.
e) ENSINAR A DIALOGAR
O Pe. Caffarel, no livro a Missão do Casal Cristão, dizia que o amor humano que os pais têm para com os filhos precisa evoluir para o amor caridade, pois o amor de um pai ou de uma mãe, por estar tão enraizado no humano, está longe de ser um amor caridade. E diz mais: se não aprendermos a usá-la com os filhos quando pequenos dificilmente chegaremos à segunda etapa, onde a caridade será ainda mais necessária, junto aos filhos adolescentes ou adultos.
E para se instalar essa caridade, continua o Pe. Caffarel “se exige que, já no plano humano, se tenha estabelecido um verdadeiro diálogo, em que cada um seja acolhedor para com o outro”.
E prosseguindo em seus comentários: “quantos filhos, quantos homens e mulheres, entre vós que me escutais, poderiam subscrever esta página de um grande escritor francês ao evocar a memória do pai: “Que conheci eu dele? Uma função, a função paterna. Um governo de direito divino, que exerceu sobre mim, sobre nós, trinta anos seguidos, com toda a consciência. Mas ele, o ser que ele era quando se encontrava só em presença de si mesmo, quem era afinal? Nada sei sobre isso. Nunca exprimiu perante mim um pensamento, um sentimento onde pudesse ver qualquer coisa de íntimo. E de mim, que sabia ele?”
Diálogo é lugar de encontro, uma via de mão dupla para conhecer e dar-se a conhecer, onde devem cair as máscaras, revelar-se o mais profundo do nosso ser, enfim, abrir-se para criar laços fortes de confiança e cumplicidade.
f) ENSINAR A AMAR
No Natal de 1945, Pe. Caffarel publicou um editorial chamado Deus, o primeiro a ser amado. É esta a grande orientação que o Movimento proclama, incitando os casais para que busquem fazer com que o amor a Deus ocupe o lugar prioritário, seja ardentemente procurado. A essência da perfeição reside no amor de Deus.
O casal cristão vive essencialmente da dinâmica de dois amores, que são como lados de uma mesma moeda: amor ao cônjuge, e amor a Deus.
Este é um aprendizado para toda a vida, para o qual não há férias, recessos ou aposentadoria.
Ensinar que amar a Deus passa necessariamente pelo caminho da ascese, do exercício e do esforço de cada dia. Assim como o amor a Deus, também, o amor humano não evolui se não se incluir nele a abnegação, esta espécie de despojamento de si mesmo, de fazer renúncias para o bem do outro. São palavras que soam tão estranhas aos jovens de nosso tempo, mas que eles podem assimilar através do exemplo contagiante de nossa vida feliz como casal.
Portanto, não basta ser feliz um pouco, nem ser feliz por pouco tempo. Trata-se da arte de conservar o frescor primaveril dos primeiros encontros, dos primeiros olhares, mesmo quando com o passar dos anos, chegam os netos e roubam boa parte do nosso tempo e nossa ternura.
VI- LIÇÕES QUE A VIDA ENSINA
Mas poderiam vocês nos perguntar: como conseguir transmitir todas essas coisas? O que podemos lhes dizer é que não será preciso escrever um tratado, nem que os falatórios serão a melhor arma, mas que o projeto que criamos fale através da vida e que a nossa felicidade seja a prova dessa verdade.
Considerem o fato de que nós, equipistas brasileiros, de alguma maneira somos filhos espirituais de Pedro Moncau e Nancy Cajado Moncau. Através deles chegou-nos o Movimento das ENS. Sem dúvida, eles foram um dom para nós.
Não tivemos a oportunidade de conviver com Pedro Moncau. Uma única vez o vimos, mas nem sequer falamos com ele. No entanto, foi o próprio Pe. Caffarel quem afirmou ter sido ele a pessoa que melhor compreendeu o espírito das ENS. Basta essa afirmação para que nos convençamos das marcas da sua fecundidade.
Gostaríamos de caminhar para o fim desta palestra partilhando um pouco do muito que aprendemos com Dona Nancy, com quem tivemos um relacionamento de mãe e filhos.
Ao término do I Encontro Nacional em Brasília, ela nos disse: se tiver um segundo encontro daqui a seis anos, eu estarei com 100 anos e já estou inscrita.
Ela não pôde estar presente, mas sabemos que está inscrita no coração de todos nós.
Fez de sua vida um projeto sagrado em prol das ENS.
Ouvimos muitas de suas conferências, todas de uma sabedoria profunda. Mas foi o seu modo de ser o que mais nos cativou.
Ela nos fazia sentir importantes. Quando assumimos a função de responsáveis pelo Brasil, várias vezes sentimos seu olhar amoroso: dizia-nos que tínhamos recebido uma unção especial de Deus para aquela função. E se punha respeitosa diante do que pensávamos para o Movimento.
Tinha a capacidade de enxergar com o coração as coisas mais triviais. Uma vez, como eu era geralmente o encarregado de preparar as músicas para as liturgias, cheguei para Dona Nancy e perguntei: “a senhora tem alguma música predileta para o momento do ofertório?” E ela com olhar brilhante me disse: gosto muito daquela que fala: “De mãos estendidas ofertamos”. E me atrevi a perguntar por que ela gostava. A resposta que veio foi: “É porque quando a gente está de mãos estendidas, elas estão longe do corpo e não dá para reter nada”.
Ela era uma espécie de membro-honorário da Equipe da Super Região. Nós a convidávamos para todas as nossas reuniões e ela, apesar da avançada idade se fazia sempre presente. Era uma presença silenciosa, atenta. Nunca a vimos ter arroubos de dona da verdade. Falava com a mesma dignidade com que sabia escutar.
Nunca vimos Dona Nancy fazer coisas importantes ao improviso. Com ela tudo era cuidadosamente estudado.
Algum tempo após a Rede Vida ter lançado o programa Tribuna Independente, o Movimento foi convidado para ali estar presente. Dona Nancy aceitou ser a entrevistada. E lá fomos para São José do Rio Preto. Ela e nós ficamos hospedados em casa do então Casal Provincial Rosinha e Anésio. No dia seguinte, o programa ia ao ar à noite. Depois do almoço, Dona Nancy pede que nós dois, mais Rosinha e Anésio nos sentemos e comecemos a sabatiná-la com as mais diversas perguntas. Ela respondia e queria saber se tudo estava bem. Assim, passamos duas ou três horas, reforçando sua preparação para o programa, sobre questões que ela já dominava com tranqüilidade.
Nossa maior convivência com Dona Nancy foi quando ela já estava com mais de 85 anos. Tinha uma saúde frágil. Mas era uma mulher comprometida, pronta a se atualizar, e sempre fazendo alguma coisa. Basta lembrar: escreveu um livro das nossas memórias, quando já tinha 90 anos. Quis aprender e aprendeu a usar o computador. Não recusava convites para dar palestras no Movimento. Sua derradeira obra, que vem espalhando frutos pelo nosso País são as Comunidades Nossa Senhora da Esperança, destinada a viúvos, viúvas e pessoas sós. Foi sua resposta ao apelo que havia chegado ao Movimento e que ela abraçou com generosidade. Apenas para demonstrar um traço de seu entusiasmo, de sua alegria de viver, quando Dona Nancy apresentava à Equipe da Super Região a estrutura do movimento que estava desenvolvendo, e dizia que podiam participar viúvos ou viúvas, pessoas sós homens ou mulheres, alguém perguntou: “Dona Nancy e se acontecer de se apaixonarem e resolverem se casar”. E ela com seu jeito brejeiro: “Se isso acontecer, a gente vai à festa!”
Era de justiça relembrar a memória de Nancy e Pedro Moncau para realçar o grande dom que foram para cada um de nós, deixando-nos como herança, através de seu amor e fidelidade, as Equipes de Nossa Senhora, fato este que nos permitiu estarmos aqui reunidos como uma grande família.
CONCLUINDO:
Se desde a distante Siquém ainda soam em nossos ouvidos as palavras “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”, nesta assembléia de Florianópolis somos desafiados como casais a construir para nossos filhos e para as gerações vindouras um mundo novo capaz de entender e viver o amor.
Através do Movimento, o Senhor oferece-nos a oportunidade de alçar os grandiosos vôos que decorrem da prática do amor-caridade, desse amor que não se acovarda diante das forças do mundo e que é capaz de ir sempre adiante; que não se fecha em conchas, mas estende as mãos e está pronto a servir ; que quer ser resposta às aspirações mais profundas, e por isso convence de modo sempre melhor.
Se alguém dentre nós, talvez, carregue um sentimento de culpa por ver filhos distantes da Igreja, distantes de Deus, uma sensação de que não conseguiu lhes transmitir a fé, nem os valores em que acredita. Se, por acaso, sofremos na própria carne com os desencontros da adolescência e todas suas preocupantes conseqüências. Se vemos, com tristeza, algum filho casado chegar ao fim de uma promissora relação de amor. Se dói constatar que os jovens não mais acreditam no amor, que família é coisa do passado, que ter filhos é um acidente genético, tranquilizemo-nos ao lembrar da parábola do semeador.
Tudo o que foi feito com retidão pelo casal cristão em favor dos filhos age à semelhança da semente que morre na terra. Ninguém vê, ninguém sabe, mas a vida ali está em constante transformação, desejosa de se tornar flor e fruto. Semear é, pois, preciso.
Olhamos para vocês aqui reunidos e encontramos muita beleza, verdade, bondade e alegria. Olhamos para vocês e renasce mais forte a esperança, porque sabemos que ninguém ficará sentado à beira do caminho.
Possa cada casal aqui presente, e os milhares de outros que ficaram em suas casas oferecer-se como dom para a sua família próxima, filhos e parentes, e para a grande família remota, quais sejam todos os que buscam e não encontram os caminhos da felicidade.
Pe. Ricardo Dias Neto, conselheiro espiritual de nossa equipe, já falecido, compôs este canto chamado Balada da Oblação Universal, com a qual encerramos nossa fala, pedindo a Deus que cada um de nós seja oferta para a construção de um mundo de amor.
Eu sei...que é imenso o campo que eu devo arar
E as sementes no bornal a me esperar
Enquanto negra a noite cobre tudo em mim.
Eu sei...que logo atrás dos montes vai surgir um sol tão lindo a me convidar
A caminhar por entre os sulcos que deixei
Eu sei... que dentre os dedos vou deixar cair
Uma semente mágica no chão, igual a um sacramento de libertação
E eu... um dia sei que hei de caminhar
Por entre iluminados espigais a salmodiar de novo o Criador.
Eu sei... que a vida inteira é curta pra viver
Um ideal tão grande e não morrer. Mas ser eternizado em cada coração.
Eu sei... que um sonho assim pra se realizar
Precisa muita lágrima rolar e então regar o chão que nossa mão plantou
Eu sei... que o trigo e a uva pra se transformar,
Precisa que os esmaguem fortes mãos,
Pra que possam tornar-se logo vinho e pão
E eu sei... que assim será pra quem disser o sim
Colocará no altar o coração
Dizendo: Comei todos deste pão!
I- SAUDAÇÃO
No ano passado, numa de suas vindas a São Paulo, local onde se realiza a maioria das reuniões da Equipe da Super Região, Graça e Roberto brindaram-nos com uma visita a nossa casa para conversamos sobre assuntos próprios do Movimento. Nessa oportunidade convidaram-nos para fazer uma palestra neste II Encontro Nacional. Confessamos que tentamos demovê-los deste convite. Primeiramente porque estávamos convencidos que esta multidão impressionante aqui reunida mereceria algo melhor do que nós. Em segundo lugar, sentimos o peso da responsabilidade e não podemos esconder de vocês o medo que esse tipo de convite sempre nos provoca.
Mas eles não aceitaram nossas ponderações.
Mais tarde, quando escrevíamos essa palestra, lembramo-nos de algo que o Pe. Caffarel falara aos casais responsáveis: “quando vocês já não sentirem medo, está na hora de arrumar suas coisas e ir embora”.
Assim, é por ainda sentir medo que podemos seguir confiando que a graça de Deus fale em nós, e bem mais alto que a nossa voz.
II- INTRODUÇÃO
A fim de introduzir o assunto voltemos nosso olhar ao povo de Israel cativo no Egito. Ali estava privado dos seus direitos. Vivia e trabalhava como escravo. Deus resolve interferir para salvar o seu povo e lhe envia um profeta: Moisés. Cumprindo as ordens do Senhor, Moisés liberta-o e conduz esses fugitivos. Nesse percurso lhes faz entender um grande acontecimento, maior que a própria liberdade: o fato de que Deus os escolhera para ser o seu povo.
Nesse caminhar, Moisés testemunha a Aliança que o Senhor quis celebrar, mas por causa de sua fraqueza, Moisés recebe uma reprimenda, e assim não poderá entrar na terra prometida.
É substituído por Josué, que completa sua obra. Após lutas e guerras, e contando sempre com a intervenção de Deus, os israelitas tomam posse da terra prometida.
Por que estamos falando nisso?
A Equipe da Super Região definiu o lema deste II Encontro Nacional, “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”, extraindo-o das palavras de Josué por ocasião de um grande encontro com as tribos de Israel. Nesse encontro, na cidade de Siquém, repartiu a terra prometida a cada uma das doze tribos e lhes disse: mantenham-se fiéis à aliança com nosso Deus.
Cativeiro, libertação, povo escolhido, aliança com Deus, e promessa cumprida. Esta a síntese da teologia começada com o Êxodo e que se completa no Livro de Josué.
“Eu e minha casa serviremos ao Senhor”. O que essa frase pode dizer hoje, a nós, reunidos nesta grande assembléia de Florianópolis?
Qual é a nossa história? Qual a grande intervenção de Deus? Qual a promessa cumprida? A que fomos convocados?
“Eu e minha casa serviremos ao Senhor é,antes de mais nada, uma profissão de fé, imagem antiqüíssima de outras profissões de fé a nós também pedidas.
É a profissão de fé no valor do sacramento do matrimônio. Acreditamos que o casal é a obra-prima de Deus, que intervém na sua história pessoal. Acreditamos neste Movimento que vem nos ajudar a descobrir o mistério do amor conjugal.
Olhemos para nós mesmos, e alegremo-nos por participar de um Movimento já consolidado, espalhado por 70 países, e no caso do Brasil, constituindo uma grande rede que cobre quase todo o território nacional. Neste Encontro de Florianópolis, somos convocados a tomar consciência dos presentes que Deus concedeu a nós, casais. Poderemos sentir semelhante contentamento, como os participantes do encontro de Siquém ao entrar na posse da terra prometida, e certamente queremos responder nosso SIM à proposta de Josué: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”.
Mudando o que deve ser mudado, é possível estabelecer uma analogia com o que se passou com o povo de Israel e nós, um novo povo constituído de casais cristãos unidos pelo sacramento do matrimônio.
Retornando para os anos de 1930-1940, pode-se dizer que, no âmbito da Igreja, os casais cristãos viviam prisioneiros das idéias que os colocavam longe do acesso à santidade, que era privilégio dos religiosos e celibatários. Os casados nada encontravam nas atividades da Igreja que pudessem desenvolver como casal. Eram vistos com ares de suspeição, inferiorizados na escala da espiritualidade por que estariam muito preocupados com o cônjuge, os filhos, com o sustento material da família. Os desejos da carne, como se dizia, eram olhados como resquício do pecado, ou se não tanto, apenas toleráveis para evitar um mal maior.
A esse cativeiro moral que discriminava os casados e reduzia o matrimônio à instituição de segunda categoria, acrescentavam-se circunstâncias desalentadoras da sociedade e da cultura da época: cresciam as uniões livres, insinuavam-se os divórcios, pontuavam-se idéias de limitação da prole pelo temor da explosão demográfica.
Em contrapartida surgiam, isoladamente é verdade, algumas poucas vozes que procuravam restabelecer o valor do amor conjugal. E, ainda, como está escrito nas primeiras palavras dos nossos Estatutos, “multiplicavam-se os casais que aspiravam a uma vida integralmente cristã”.
O clamor desses casais, novo povo, ecoou no coração de Deus que mais uma vez vem intervir na história, agora em favor do amor conjugal e do matrimônio e lhe suscita um profeta para livrá-lo do jugo do pensamento reinante. Envia a esse povo um guia, que o conduzirá à descoberta das belezas do matrimônio cristão segundo o plano do Criador. O profeta enviado por Deus, conhecido de todos nós, chama-se Pe. Henri Caffarel.
O assunto que iremos desenvolver é o casal cristão, enquanto dom para os filhos. Assim, tínhamos necessariamente que evocar a figura do casal, pois se não formos verdadeiramente casal, não poderemos ser dom. Evidente que não estamos nos referindo a um casal qualquer, mas ao casal cristão, libertado das amarras, plenificado pelo amor de Deus, e por Ele tornado fecundo.
III- CASAL CRISTÃO
Partimos da afirmativa de que o casal é um dom de Deus para os filhos. Será verdade? De que forma ser dom? Há meios disponíveis para que isso se concretize?
Permaneçamos ainda olhando para as nossas origens, voltados às fontes do nosso Movimento. Será suficiente lembrar que a semente foi lançada quando o Pe. Caffarel reuniu-se inicialmente com 4 casais. Eram casais jovens, ricos de um amor novinho em folha. Casais cristãos convictos, que queriam viver em profundidade o seu amor conjugal sob o prisma da fé, mas imergidos no cotidiano de sua vida de casal.
Tinham firmeza de objetivo. Seu pedido ao Pe. Caffarel era claro: “Com certeza, Deus pensa algo de muito belo a respeito desse amor humano, que é a nossa riqueza e a nossa esperança. Ajude-nos a descobri-lo”.
Em sua simplicidade, Pe. Caffarel reconheceu que não detinha maiores informações, nem conhecimentos próprios, em suma não podia lhes oferecer uma resposta pronta.
No entanto, veio não uma resposta, mas uma proposta, que todos conhecemos: “Procuremos juntos!”
A partir desta decisão, de um modo novo e diferente, mas não menos extraordinário que as façanhas de Moisés e de Josué, iniciava-se a trajetória dos casais equipistas em busca das potencialidades do amor que os unia. “Dois amores que constituíam sua força, sua alegria, sua razão de viver: o amor de Cristo e o amor conjugal”.
Não será necessário percorrer todos os passos da nossa história de 70 anos, mas em cada passo encontramos as marcas da graça de Deus.
Podemos afirmar que a fecundidade evangélica do Pe. Caffarel e daqueles casais pioneiros foi generosamente distribuída, passada de mãos em mãos, ou melhor de coração a coração e foi assim que chegou até nós.
As ENS visam o casal. Ele é sua razão de ser. Oferece-lhe uma proposta, dá-lhe uma pedagogia, ensina, exorta, incentiva, enfim, indica ao casal um caminho de felicidade.
Olhemos para o interior de nós mesmos, e nos veremos testemunhas das inúmeras transformações pelas quais passamos: o tempo da conversão, do aprendizado, do crescimento e até, para muitos de nós, o da maturidade na fé. Como casal recebemos demais, não é verdade?
Porém, conta o Pe. Caffarel que uma vez recebeu uma carta amigável de um casal equipista, mas que lhe apresentava uma queixa. Dizia reconhecer que o Movimento tinha sido útil, que fazia muito pelos casais, pelo desenvolvimento do amor conjugal, mas muito pouco pela educação dos filhos. E concluía a carta de um modo que, não o disse o Pe. Caffarel, mas o dizemos nós, pareceu-nos um tanto quanto deselegante: Dizia que rezava pedindo a Deus que suscitasse um super-Pe. Caffarel, que desse atenção ao objetivo de ajudar os filhos dos equipistas.
Pe. Caffarel respondeu que não discordava daquela aspiração, mas enquanto ele também rezava e esperava que Deus atendesse esse pedido – enviar um super-Caffarel -, tomava a liberdade de lembrar ao distinto casal que a prática do mandamento novo: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei, aplica-se também no relacionamento entre pais e filhos.
Amar como Jesus amou: Somente através desse amor à maneira do amor de Cristo é que estaremos assumindo o ministério de ser dom, presente de Deus para os filhos.
IV- DOM DE DEUS PARA OS FILHOS
Em princípio, tudo de bom que o pai e a mãe fazem pelos filhos, pode ser considerado um dom, um presente. A própria geração da vida é um grande dom. Não nos esqueçamos dos casais que não puderam gerar a vida biológica, mas descobriram outras maneiras de distribuir seu amor.
Quando o casal luta, trabalha e se esforça para cuidar da subsistência dos filhos, propiciar-lhes acesso aos estudos, dar-lhes um nível razoável de conforto, uma casa que os abrigue, não se pode negar que isso tudo é dom para o filho.
Mas essas coisas comuns podem ser dadas por qualquer casal. Não precisa ser casal cristão, muito menos equipista.
Por sua vez, nem todo cuidado, desvelo ou atenção com os filhos poderá merecer o título de amor-caridade, de amor assemelhado ao de Jesus. Talvez não passe do mero cumprimento de uma obrigação moral, ou mesmo uma simples resposta de quem se sente responsável pela manutenção, pela educação da prole.
Para ser dom de Deus, o casal cristão forçosamente se interessará em transmitir a fecundidade evangélica, que corresponde a uma força criativa, geradora de vida. Ser dom é trabalhar o terreno, é fecundar o espírito dos filhos com sementes da sabedoria divina.
Por outro lado, nem mesmo se poderá medir ou avaliar a fecundidade de ser dom pela constatação dos frutos produzidos. Talvez esses frutos demorem a vir; talvez não nos seja dado contemplá-los. A fecundidade de ser dom não se mede pelo resultado do que cada casal cristão conseguiu recolher dos filhos, mas daquilo que deixamos Deus realizar neles através de nós. Temos de nos convencer que não somos detentores do poder e do controle. Eles não são nossa propriedade, e com a liberdade que lhes cabe, poderão escolher os seus destinos, talvez perto, talvez distanciados dos nossos caminhos.
Apesar dessa inexorável liberdade diante da qual, por vezes, pagamos pesado preço, cremos que podemos nos pôr de acordo de que um casal cristão que se preze não pode deixar a família navegar ao sabor das ondas. É preciso ter um projeto.
V- COM UM OLHAR PARA O AMANHÃ
Um projeto é algo que nos leva a querer incorporar valores que reputamos importantes e que almejamos possam ser assimilados ou aproveitados pelos filhos, sabe-se lá quando ou como.
Sempre nos lembramos das palavras sábias do Pe. Mario José Filho, ex-conselheiro espiritual da então ECIR, quando mostrava o contraste entre o comum e o normal.
É comum hoje ser desonesto. Mas não é normal. É comum aceitar que se use qualquer meio para alcançar um fim, mas não é normal. É comum não se sustentar sentado o que se falou em pé, mas não é normal. É comum a infidelidade conjugal, mas não é normal. É comum tirar-se vantagem, resolver tudo com aquele jeitinho conhecido, mas não é normal. É comum marido e mulher viverem em espírito de competição dentro do lar, mas isso não é normal. É comum as crianças e os jovens não conhecerem limites para nada, mas isso não é normal.
É tão grande a perda de valores do mundo que se poderiam multiplicar os exemplos na linha do comum e do normal.
É a conseqüência do relativismo gritante em que vivemos, e que o Papa Bento XVI cataloga como um dos maiores perigos para a humanidade, e que bate constantemente às portas de nossa casa. Tudo é relativo, não existem mais verdades absolutas. Acreditar em que, em quem, para quê? Quem de nós não ouviu um filho dizendo: “eu penso assim e está acabado!” Ou uma frase como esta: “Que bobagem, pai! Todo mundo faz isso?” Enfim, vemos atônitos que hoje cada um se sente no direito de estabelecer os seus próprios parâmetros.
Quem pretende ser dom de Deus para os filhos tem de reagir, de confrontar essa forma perniciosa de pensar, de ser e de agir.
Pensamos que não seja difícil estabelecer um projeto para o casal! Nem se trata de colocar nesse projeto apenas nossos sonhos, ou só o que julgamos importante. Trata-se, mais, de perguntar o que Deus espera de nós, como casal?
Falamos que não é difícil um projeto conjugal, ou seja, do marido e da esposa. A pergunta que se segue é: poder-se-ia falar também num projeto da família? Pode uma família, com filhos em diversas faixas de idade, que pensam diferente, que podem optar por outros caminhos, ter um projeto comum, construir alguma coisa juntos?
Se pensarmos num projeto da família, ou seja, construído ativamente pelo casal junto com seus filhos, concluiríamos que seria quase uma utopia, algo acessível apenas para uma minoria de famílias privilegiadas, excepcionalmente harmoniosas. Mas se admitirmos que os pais podem fazer um projeto de família, isso passa a ser perfeitamente factível.
Evidentemente, um projeto assim, será algo bem mais aberto, flexível, centrado mais em atitudes do que em idéias e decisões. Um projeto disposto a evoluir lentamente, e que tem por objetivo apenas dar um certo “rosto comum”, sem pretender fazer que os filhos pensem todos da mesma forma ou que observem fielmente o jeito de ser dos pais.
Um projeto de família representa o esforço empreendido pelo casal, uma luz a indicar de que modo a família pode caminhar nas penumbras difíceis da vida. Trata-se de algo que, sem ferir a liberdade dos filhos, abra-lhes uma oportunidade de descobrir os valores que nos fazem felizes e, sobretudo, revelar-lhes o que é o amor e como se ama.
O documento Conclusões de Puebla, em seu nº 583, fala dos rostos do amor humano, como um processo de evolução da pessoa humana: o rosto do amor conjugal, o rosto do amor do pai e da mãe, o rosto do amor filial, e o rosto do amor fraterno.
Silvio Botero, sacerdote e doutor em teologia, destaca que todos esses rostos são o amor em potência, aguardando a oportunidade para se manifestar na vida do homem.
O casal cristão pode, se assim o quiser, ser dom vital para a filhos. Aliás, nada melhor para acender o amor na família que possibilitar coisas feitas em comum, nem que seja um almoço de fim de semana, um programa de lazer, rezar juntos etc.
Falamos em projeto de família não necessariamente como ações a realizar, mas como atitudes a serem assimiladas. Não é à toa que o Movimento propõe a nós, casais, Pontos Concretos de Esforço que nos levem a vivenciar as três atitudes fundamentais: a clareza da verdade, o encontro e a comunhão com o próximo, aqui incluídos os filhos, e nos ensine a buscar o amor e a vontade de Deus.
Quando os filhos são pequenos é mais fácil incutir em seus corações, até mesmo por palavras, os valores que os ajudem a abrir-se ao conhecimento de Deus. Quando eles crescem, já não há quase espaço para esse tipo de abordagem, não cabe forçar nada. Resta assim o cultivo das atitudes e dos exemplos que arrastam e abrem o coração.
Mercedes e Álvaro Gomes Ferrer, ex-casal responsável da ERI, numa palestra sobre os meios que o Movimento disponibiliza em favor dos casais, especialmente na sua relação com os filhos, elencaram algumas pistas que gostaríamos de compartilhar com vocês. São apenas pistas que não esgotam a matéria, de maneira que podemos permanecer inteiramente abertos à nossa própria criatividade. Eis alguns pontos para um esboço do nosso projeto de família.
a) ENSINAR A OLHAR: Talvez haja aqui pessoas que entendam da arte da pintura, mas provavelmente a maioria, como nós, limite-se a gostar ou desgostar de um quadro. Quando porém nos deixamos conduzir por um especialista, descobriremos o sentido das sombras que fazem realçar a luz. Percebem-se os detalhes, as expressões, os matizes, os contrastes que nos permitem ver muito mais do que está ao alcance dos olhos, e nos fazem penetrar na alma do artista.
Também podemos aprender e ensinar a olhar cada pessoa com atenção, com ternura e compaixão. Se assim a olharmos, poderemos percebê-la como pessoa única, digna de um amor exclusivo. É assim que Deus nos olha: olhar amoroso, criativo, cheio de misericórdia.
b) ENSINAR A ESCUTAR
Não é fácil escutar. Não se trata de uma atitude passiva: fechar a boca e pronto. É uma atitude ativa, talvez até mais exigente que o próprio falar. Implica descentralizar o foco de si para o outro. Quem não esquece de si mesmo não terá tempo para ouvir.
Não se trata, tampouco, de apenas prestar atenção para poder entender o pensamento do outro, mas também é escutar com todo o corpo, com os olhos, com o sorriso, com o coração, e tudo o que for capaz de mostrar acolhimento.
c) ENSINAR A PENSAR
Que nossos filhos reconheçam que não fazemos o papel de “animais arrastados pelo tropel da boiada”. Que vejam que somos capazes de pensar, de ter senso crítico. Que não nos deixamos levar pelas primeiras notícias dos jornais ou da TV, geralmente manipuladas e tendenciosas. Já dizia o filósofo Descartes: “penso, logo existo”. Quem pensa e reflete exercita uma das principais características do ser humano. Que nossos filhos possam beneficiar-se da retidão no pensar que aprimoramos através do estudo e discussão do tema de nossas reuniões mensais, que nos vejam gastando tempo com boas leituras, que nos sintam interessados no conhecimento da fé. Que não nos vejam envergonhados por mudar de idéias porque estamos sempre abertos a aprender algo novo.
d) ENSINAR A ENTUSIASMAR-SE
O entusiasmo é essa atitude interior que faz a vida ser bela. Não se trata de atitude de quem não tem problemas, mas da capacidade de prestar atenção ao raio de luz em vez de perder tempo com a escuridão que tenta esconder essa luz. Entusiasmar-se é transformar qualquer coisa comum em algo interessante, é saber alegrar-se com o que é simples.
Num antigo editorial escrito pelo Padre Bernard Olivier, que foi conselheiro espiritual da ERI ele dizia: “A felicidade é para aqueles que são felizes”. Pensem se isso não é verdade! É que há pessoas que por mais coisas boas que lhes estejam ocorrendo, estão sempre amarguradas, enquanto outras transformam em bem tudo o que lhes ocorre de ruim.
e) ENSINAR A DIALOGAR
O Pe. Caffarel, no livro a Missão do Casal Cristão, dizia que o amor humano que os pais têm para com os filhos precisa evoluir para o amor caridade, pois o amor de um pai ou de uma mãe, por estar tão enraizado no humano, está longe de ser um amor caridade. E diz mais: se não aprendermos a usá-la com os filhos quando pequenos dificilmente chegaremos à segunda etapa, onde a caridade será ainda mais necessária, junto aos filhos adolescentes ou adultos.
E para se instalar essa caridade, continua o Pe. Caffarel “se exige que, já no plano humano, se tenha estabelecido um verdadeiro diálogo, em que cada um seja acolhedor para com o outro”.
E prosseguindo em seus comentários: “quantos filhos, quantos homens e mulheres, entre vós que me escutais, poderiam subscrever esta página de um grande escritor francês ao evocar a memória do pai: “Que conheci eu dele? Uma função, a função paterna. Um governo de direito divino, que exerceu sobre mim, sobre nós, trinta anos seguidos, com toda a consciência. Mas ele, o ser que ele era quando se encontrava só em presença de si mesmo, quem era afinal? Nada sei sobre isso. Nunca exprimiu perante mim um pensamento, um sentimento onde pudesse ver qualquer coisa de íntimo. E de mim, que sabia ele?”
Diálogo é lugar de encontro, uma via de mão dupla para conhecer e dar-se a conhecer, onde devem cair as máscaras, revelar-se o mais profundo do nosso ser, enfim, abrir-se para criar laços fortes de confiança e cumplicidade.
f) ENSINAR A AMAR
No Natal de 1945, Pe. Caffarel publicou um editorial chamado Deus, o primeiro a ser amado. É esta a grande orientação que o Movimento proclama, incitando os casais para que busquem fazer com que o amor a Deus ocupe o lugar prioritário, seja ardentemente procurado. A essência da perfeição reside no amor de Deus.
O casal cristão vive essencialmente da dinâmica de dois amores, que são como lados de uma mesma moeda: amor ao cônjuge, e amor a Deus.
Este é um aprendizado para toda a vida, para o qual não há férias, recessos ou aposentadoria.
Ensinar que amar a Deus passa necessariamente pelo caminho da ascese, do exercício e do esforço de cada dia. Assim como o amor a Deus, também, o amor humano não evolui se não se incluir nele a abnegação, esta espécie de despojamento de si mesmo, de fazer renúncias para o bem do outro. São palavras que soam tão estranhas aos jovens de nosso tempo, mas que eles podem assimilar através do exemplo contagiante de nossa vida feliz como casal.
Portanto, não basta ser feliz um pouco, nem ser feliz por pouco tempo. Trata-se da arte de conservar o frescor primaveril dos primeiros encontros, dos primeiros olhares, mesmo quando com o passar dos anos, chegam os netos e roubam boa parte do nosso tempo e nossa ternura.
VI- LIÇÕES QUE A VIDA ENSINA
Mas poderiam vocês nos perguntar: como conseguir transmitir todas essas coisas? O que podemos lhes dizer é que não será preciso escrever um tratado, nem que os falatórios serão a melhor arma, mas que o projeto que criamos fale através da vida e que a nossa felicidade seja a prova dessa verdade.
Considerem o fato de que nós, equipistas brasileiros, de alguma maneira somos filhos espirituais de Pedro Moncau e Nancy Cajado Moncau. Através deles chegou-nos o Movimento das ENS. Sem dúvida, eles foram um dom para nós.
Não tivemos a oportunidade de conviver com Pedro Moncau. Uma única vez o vimos, mas nem sequer falamos com ele. No entanto, foi o próprio Pe. Caffarel quem afirmou ter sido ele a pessoa que melhor compreendeu o espírito das ENS. Basta essa afirmação para que nos convençamos das marcas da sua fecundidade.
Gostaríamos de caminhar para o fim desta palestra partilhando um pouco do muito que aprendemos com Dona Nancy, com quem tivemos um relacionamento de mãe e filhos.
Ao término do I Encontro Nacional em Brasília, ela nos disse: se tiver um segundo encontro daqui a seis anos, eu estarei com 100 anos e já estou inscrita.
Ela não pôde estar presente, mas sabemos que está inscrita no coração de todos nós.
Fez de sua vida um projeto sagrado em prol das ENS.
Ouvimos muitas de suas conferências, todas de uma sabedoria profunda. Mas foi o seu modo de ser o que mais nos cativou.
Ela nos fazia sentir importantes. Quando assumimos a função de responsáveis pelo Brasil, várias vezes sentimos seu olhar amoroso: dizia-nos que tínhamos recebido uma unção especial de Deus para aquela função. E se punha respeitosa diante do que pensávamos para o Movimento.
Tinha a capacidade de enxergar com o coração as coisas mais triviais. Uma vez, como eu era geralmente o encarregado de preparar as músicas para as liturgias, cheguei para Dona Nancy e perguntei: “a senhora tem alguma música predileta para o momento do ofertório?” E ela com olhar brilhante me disse: gosto muito daquela que fala: “De mãos estendidas ofertamos”. E me atrevi a perguntar por que ela gostava. A resposta que veio foi: “É porque quando a gente está de mãos estendidas, elas estão longe do corpo e não dá para reter nada”.
Ela era uma espécie de membro-honorário da Equipe da Super Região. Nós a convidávamos para todas as nossas reuniões e ela, apesar da avançada idade se fazia sempre presente. Era uma presença silenciosa, atenta. Nunca a vimos ter arroubos de dona da verdade. Falava com a mesma dignidade com que sabia escutar.
Nunca vimos Dona Nancy fazer coisas importantes ao improviso. Com ela tudo era cuidadosamente estudado.
Algum tempo após a Rede Vida ter lançado o programa Tribuna Independente, o Movimento foi convidado para ali estar presente. Dona Nancy aceitou ser a entrevistada. E lá fomos para São José do Rio Preto. Ela e nós ficamos hospedados em casa do então Casal Provincial Rosinha e Anésio. No dia seguinte, o programa ia ao ar à noite. Depois do almoço, Dona Nancy pede que nós dois, mais Rosinha e Anésio nos sentemos e comecemos a sabatiná-la com as mais diversas perguntas. Ela respondia e queria saber se tudo estava bem. Assim, passamos duas ou três horas, reforçando sua preparação para o programa, sobre questões que ela já dominava com tranqüilidade.
Nossa maior convivência com Dona Nancy foi quando ela já estava com mais de 85 anos. Tinha uma saúde frágil. Mas era uma mulher comprometida, pronta a se atualizar, e sempre fazendo alguma coisa. Basta lembrar: escreveu um livro das nossas memórias, quando já tinha 90 anos. Quis aprender e aprendeu a usar o computador. Não recusava convites para dar palestras no Movimento. Sua derradeira obra, que vem espalhando frutos pelo nosso País são as Comunidades Nossa Senhora da Esperança, destinada a viúvos, viúvas e pessoas sós. Foi sua resposta ao apelo que havia chegado ao Movimento e que ela abraçou com generosidade. Apenas para demonstrar um traço de seu entusiasmo, de sua alegria de viver, quando Dona Nancy apresentava à Equipe da Super Região a estrutura do movimento que estava desenvolvendo, e dizia que podiam participar viúvos ou viúvas, pessoas sós homens ou mulheres, alguém perguntou: “Dona Nancy e se acontecer de se apaixonarem e resolverem se casar”. E ela com seu jeito brejeiro: “Se isso acontecer, a gente vai à festa!”
Era de justiça relembrar a memória de Nancy e Pedro Moncau para realçar o grande dom que foram para cada um de nós, deixando-nos como herança, através de seu amor e fidelidade, as Equipes de Nossa Senhora, fato este que nos permitiu estarmos aqui reunidos como uma grande família.
CONCLUINDO:
Se desde a distante Siquém ainda soam em nossos ouvidos as palavras “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”, nesta assembléia de Florianópolis somos desafiados como casais a construir para nossos filhos e para as gerações vindouras um mundo novo capaz de entender e viver o amor.
Através do Movimento, o Senhor oferece-nos a oportunidade de alçar os grandiosos vôos que decorrem da prática do amor-caridade, desse amor que não se acovarda diante das forças do mundo e que é capaz de ir sempre adiante; que não se fecha em conchas, mas estende as mãos e está pronto a servir ; que quer ser resposta às aspirações mais profundas, e por isso convence de modo sempre melhor.
Se alguém dentre nós, talvez, carregue um sentimento de culpa por ver filhos distantes da Igreja, distantes de Deus, uma sensação de que não conseguiu lhes transmitir a fé, nem os valores em que acredita. Se, por acaso, sofremos na própria carne com os desencontros da adolescência e todas suas preocupantes conseqüências. Se vemos, com tristeza, algum filho casado chegar ao fim de uma promissora relação de amor. Se dói constatar que os jovens não mais acreditam no amor, que família é coisa do passado, que ter filhos é um acidente genético, tranquilizemo-nos ao lembrar da parábola do semeador.
Tudo o que foi feito com retidão pelo casal cristão em favor dos filhos age à semelhança da semente que morre na terra. Ninguém vê, ninguém sabe, mas a vida ali está em constante transformação, desejosa de se tornar flor e fruto. Semear é, pois, preciso.
Olhamos para vocês aqui reunidos e encontramos muita beleza, verdade, bondade e alegria. Olhamos para vocês e renasce mais forte a esperança, porque sabemos que ninguém ficará sentado à beira do caminho.
Possa cada casal aqui presente, e os milhares de outros que ficaram em suas casas oferecer-se como dom para a sua família próxima, filhos e parentes, e para a grande família remota, quais sejam todos os que buscam e não encontram os caminhos da felicidade.
Pe. Ricardo Dias Neto, conselheiro espiritual de nossa equipe, já falecido, compôs este canto chamado Balada da Oblação Universal, com a qual encerramos nossa fala, pedindo a Deus que cada um de nós seja oferta para a construção de um mundo de amor.
Eu sei...que é imenso o campo que eu devo arar
E as sementes no bornal a me esperar
Enquanto negra a noite cobre tudo em mim.
Eu sei...que logo atrás dos montes vai surgir um sol tão lindo a me convidar
A caminhar por entre os sulcos que deixei
Eu sei... que dentre os dedos vou deixar cair
Uma semente mágica no chão, igual a um sacramento de libertação
E eu... um dia sei que hei de caminhar
Por entre iluminados espigais a salmodiar de novo o Criador.
Eu sei... que a vida inteira é curta pra viver
Um ideal tão grande e não morrer. Mas ser eternizado em cada coração.
Eu sei... que um sonho assim pra se realizar
Precisa muita lágrima rolar e então regar o chão que nossa mão plantou
Eu sei... que o trigo e a uva pra se transformar,
Precisa que os esmaguem fortes mãos,
Pra que possam tornar-se logo vinho e pão
E eu sei... que assim será pra quem disser o sim
Colocará no altar o coração
Dizendo: Comei todos deste pão!
2 comentários:
amigos equipistas
Como poderíamos conseguir o vídeo da musica cantada pelo Chico e a cifra para o nosso Setor ?
Maravilhas do Senhor e de sua Mãe Maria se realizaram neste encontro.
Parabens a todos vcs.
Joana e Vena
Não pudemos estar presentes fisicamente nesse Encontro, mas hoje lemos a palestra de nosso queridíssimo casal Silvia e Chico e queremos pedir que Deus continue sempre a abençoá-los e agradecer de coração o enorme privilégio de conviver com eles. Obrigada por tanto amor e por tanta dedicação. Nós amamos vocês.
Fati e Álvaro
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